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Marcio Silva • abr. 07, 2019

As emoções são canais fundamentais de comunicação dentro da própria espécie e entre espécies diferentes (DARWIN, 2012). Em essência, são impulsos para agir! Planos instantâneos para lidar com a vida com raízes estabelecidas em milhares de anos de sobrevivência e evolução das espécies. Conforme sua acepção do latim, emovere , cujo significado é “pôr em movimento” - não apenas em relação ao físico, mas também em sentido figurado, denota algo que se move no interior da vida psíquica. Além disso, a emoção é uma experiência subjetiva orquestrada por eventos bioquímicos, tendo cada emoção sua impressão química particular, situada na conexão mente/corpo.

A emoção caracteriza-se por uma disposição distinta para agir, diante dos desafios recorrentes da vida, com base no repertório emocional evolutivo da história das espécies (GOLEMAN, 1995), como exemplo, medo, raiva, tristeza e alegria consideradas expressões universais. Desta forma, o hábito de expressar emoções por meio de certos movimentos foi adquirido gradualmente. Acrescenta Porges (2013), que a avaliação das situações de perigo, segurança ou ameaça à vida dá-se por via de circuitos neurais subcorticais; sem ser dependente de atenção consciente: neurocepção. Entretanto, a maneira como o indivíduo exibe ou contém as próprias emoções em momentos íntimos, é moldada pela cultura.

Essas tendências biológicas para agir são ainda mais moldadas por nossa experiência e cultura. Por exemplo, a perda de um ser amado provoca universalmente, tristeza e luto. Mas a maneira como demonstramos nosso pesar como exibimos ou contemos as emoções em momentos íntimos - é moldada pela cultura como também o é a escolha de quais pessoas particulares em nossas vidas se encaixam na categoria de "entes queridos" a serem lamentados (GOLEMAN, 1995, p. 37).

A emoção integra um sistema de comunicação corpo/mente constituído por receptores e neurotransmissores conhecidos como “moléculas da emoção” (PERT, 2009). Uma rede bioquímica que alimentam a troca de informações e conexão entre os sistemas nervoso, endócrino, imunológico, circulatório e outros mais . Nas palavras de Pert (2009, p. 50):

Assim como as propriedades simultâneas de partícula e onda da luz, as moléculas da emoção andam para os dois lados. Ao mesmo tempo, são substâncias físicas que você pode ver e pesar num gel no laboratório, que vibram com uma carga elétrica no animal vivo; e são o tipo de onda condutora de informações entre pessoas. São tanto físicas quanto psicológicas, ligando o cérebro com o corpo numa ampla rede de comunicação para coordenar o corpomente inteiro.

A cada mudança de humor, uma cascata de "moléculas da emoção" é despejada pelo corpo, confirmando que a conexão do neurotransmissor com o receptor é a manifestação do sentimento no mundo físico. Conforme Pert (2009), a memória não está somente no cérebro, ela flui de maneira subconsciente em todo o corpo. De modo que o corpo físico pode ser modificado pelas emoções que experimentamos. Acrescenta Williams e Penman (2015, p. 24): “É uma dança intricada, cheia de ligações sutis que só agora começamos a entender”.

Além do mais, as emoções nascem como um campo que flui em volta e através do cérebro, das glândulas do sistema imunológico, do coração e dos intestinos, criando uma teia completa de informação. Estão intimamente entrelaçadas com cada aspecto da neurofisiologia humana. Conforme Porges (2013), a evolução do sistema nervoso autônomo é o princípio organizador para a expressão e a experiência de afeto. Ou seja, o estado neurofisiológico limita a variedade de comportamentos emocionais.

As emoções são complexas, guardam em si traços distintos da evolução humana e definem-se na relação com o outro num fluxo de informações essenciais para a sobrevivência. Ressalta Ledoux (2011), são os fios que interligam a vida mental e definem quem somos para nós mesmos e para os outros. Nas palavras de Williams e Penman (2015, p. 24): “as emoções são assim: uma “cor de fundo” criada quando a mente funde pensamentos, sentimentos, impulsos e sensações físicas para evocar um tema norteador ou um estado mental geral”. Portanto, jamais devem ser suprimidas; e, sim, acolhidas e transformadas.


Produzido por Márcio Silva - Biopsicólogo.

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